quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Ordo versus Chaos

Há Ordem no Caos. Há Caos na Ordem. Ambos estes titãs incompreensíveis, totens incalculáveis, contém um no outro sua essência. Assim como o Yin está no Yang e o Yang está no Yin, assim a Ordem e o Caos se interrelacionam.

(Que maravilha, ele começou mais um daqueles textos técnicos.)

A Ordem pode ser dura, rígida, implacável... mas sua previsibilidade não é de todo previsível. Nessa previsibilidade nasce a semente da mudança e da revolta. Das emoções afloradas e da liberdade.

No momento de euforia, o Caos nasce e reina. E no fim, todos ficam confusos. Até que estabelecem uma nova Ordem em suas vidas pelo que acham justo, que durará até a próxima semente da revolta, nascida da necessidade dos espíritos livres.

Dentro de nós não é diferente. Nós somos constituídos de emoções e razão.

Imaginemos que dentro de nós há um pequeno vilarejo. Neste vilarejo, cada emoção tem uma casinha. E cada pensamento racional, outra casinha. Aí, implantamos uma idéia de desordem, de Caos, nesta vila. Nada muito grotesco como a Revolução Francesa; o chefe da vila (nós) permite a todas as emoções e pensamentos racionais que devem trocar de casa uma vez por dia, aleatoriamente.

Contudo, as casas continuam pertencendo a seus legítimos donos. A casa da Dona Raiva fica toda colorida com a decoração da Dona Alegria, o que a deixa furiosa. O Sr. Medo, por sua vez, achou a decoração de Dona Raiva muito agressiva e assustadora. Todos os habitantes da aldeia ficarão bravos uns com os outros e cada um passa a entrar na casa que não devia no horário que não deveria.

Incontentes com a situação, todos fazem greve em frente a casa do chefe da vila. Eles exigem que ele tome medidas perante aquela bagunça. Eles querem Ordem.

Quantas vezes não ficamos com os sentimentos fora de lugar? Aos poucos, assim como uma vida totalmente racionalizada torna uma pessoa fria e bitolada, uma vida desregrada leva à confusão nos sentimentos. Ficamos tristes, alegres, bravos e paranóicos... em apenas cinco minutos de intervalo.

Isso ocorre devido a uma desorganização das idéias. As idéias desorganizadas produzem sentimentos fora de ordem, que por sua vez florescem em situações inadequadas. Um elogio torna-se uma ofensa mortal; um xingamento torna-se uma palavra doce e delicada. E não sabemos explicar porque isso acontece: somos reféns e escravos de nós mesmos.

Não fazemos o que desejamos, nós nos tornamos escravos de nossos desejos. Significa que não vemos limites no que fazemos. Aos poucos, tornamos nossas vidas insuportáveis por tantas mudanças drásticas em tão pouco. Não somente, temos medo de mudar isso, porque achamos que uma vida regrada é paralisada e estática demais aos nossos propósitos.

Um ponto de equilíbrio se faz necessário. Cada sentimento tem sua hora, seu lugar. E ele não deve ser liberto descontroladamente, mas canalizado de forma positiva.

Está com raiva? Não é necessário ser agressivo com os outros, escreva sobre isso. Está preocupado e com medo de alguma coisa? Utilize seu medo para ficar mais atento a isso ao invés de ficar paralisado. Está triste? Procure ver o que te incomoda e descubra o porquê disso te incomodar e então tome as medidas necessárias, no lugar de chorar em todos os cantos ou quando não for conveniente.

(Espero que isso tenha ficado bom...)

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Dez Anos de Tormenta e Menos de Dez Anos de Mentalidade

Há muito tempo tenho me segurado para escrever isto neste blog. Os leitores sabem porquê. Não gosto de puxar briga e achei que, se alguém descobrisse minha opinião, eu poderia estar comprometido. Mas eu não vou mais me calar. Como eu disse anteriormente, meu compromisso é com a Verdade e eu direi tudo o que vejo, sem papas na língua.

Sempre gostei - e gosto - de Tormenta. Não sei e não me importo em absoluto com o que dizem os mais puristas: gosto do estilo anime em Arton e até foi um pouco por isso que os romances de Tormenta não ficaram ao meu gosto (apesar de não questionar sua qualidade).

A Dragão dirigida pelo Trio Tormenta, e a Dragon Slayer sempre satisfizeram minhas expectativas como consumidor final e RPGista. Sempre encontrei material, sempre encontrei qualidade, sempre encontrei coisas úteis.

Contudo, nos últimos anos, tenho encontrado algo na Dragon Slayer chamado Falta de Profissionalismo. Não em questões a respeito de seu material. Mas sim, principalmente, na seção de cartas, chamada Encontros Aleatórios e anteriormente na subseção Falhas Críticas.

Um personagem inominado, utilizando de falas provavelmente ditas por Marcelo Telles e outros críticos da Dragon Slayer tem me incomodado bastante. A Dragon Slayer tem se posicionado de forma extremamente parcial, infantil e pessoal a esse respeito, utilizando um veículo de informação para meios anti-éticos. Não somente, seu posicionamento a cerca do que é uma revista também tem sido bastante anti-ético:

"Você, que nos acompanha desde a Dragão Brasil, sabe muito bem disso: não somos neutros, não somos imparciais."
-Editorial da Dragon Slayer nº 23, intitulado curiosamente de "Imparcialidade: Procure isso em outro lugar"

O Editorial e os Artigos, certamente, são os espaços os quais a revista tem para a equipe que a produz expressar sua opinião sobre determinados assuntos. Mas não a revista inteira, não o tempo todo e não a respeito de todos os produtos avaliados.

O jornalista tem o dever de ser imparcial. É sua obrigação transmitir a informação e não o que ele pensa a respeito dela. O dever do leitor é receber a informação e utilizá-la para pensar por si mesmo. Se o jornalista está sendo parcial, ele manipula a informação em seu próprio benefício e em benefício de sua opinião.

Expressar as brigas entre a antiga editora do Trio e o próprio Trio é como publicar uma nota na Dragon Slayer dizendo: "O gato do Cassaro morreu, estamos de luto". Não é o objetivo da revista mostrar essas brigas - isso deve ser resolvido na Justiça, como eu mesmo já disse muitos anos atrás para um dos membros do Trio.

A revista é local para mostrar RPG, não opiniões particulares e assuntos pessoais mal resolvidos, que fazem tanto tempo que já deveriam ter sido esquecidos. A impressão que dá é que algumas pessoas na Dragon Slayer vivem no mundo da fantasia do RPG, sem distinguir a realidade da ficção e acham que devem se vingar dos "hereges que se levantaram contra eles" como se fossem alguma espécie de Paladinos com papel e impressora.

Portanto, declaro meu repúdio total sobre a posição da Dragon Slayer como instrumento de comunicação e informação e imediatamente pararei de comprar esta revista. Que chiem os "fanboys" do Cassaro e que continue comprando quem quiser.

Estou fora de sua infantilidade de agora em diante.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Paraíso Reconquistado - Parte III

Asmodeus reflete por alguns segundos. Ele é inteiramente demônio e inteiramente humano, como Jesus proclama ser completamente Deus e completamente homem. Então ele pensa se ele deveria se arrepender de sua escolha. Ele então olha para seus dois povos, humanos e demônios. Ele vê sofredores.

Humanos eram tiranizados pelo simples "pecado" de pensar diferente, de tentarem ser donos de seus próprios destinos. De amarem uns aos outros com paixão, ao invés de amarem a um Deus inacessível, estranho, indiferente e egoísta. Obviamente, alguns mereciam estar lá. Mas alguns que estavam confortáveis, descansando no Paraíso confortavelmente, enquanto dançavam e glorificavam o nome de um tirano, mais por medo do que por amor, também deveriam estar lá - perseguiram e oprimiram vários deles a vida inteira.

Do outro lado, os demônios. Mártires de uma era remota de muitos aeons atrás, os demônios haviam decaído, de certa forma, em sua nobreza e dignidade. Mas isso não se devia ao fato de estarem injustamente aprisionados naquele lugar? No local cheio de sofrimento e desespero que era o Inferno? Onde só havia choro e ranger de dentes? Qual foi o erro deles, para serem enviados para lá? Podemos talvez começar a citar a elevação espiritual da humanidade? Entrega do conhecimento? Ou simplesmente o fato de querer ser a causa da própria felicidade, ao invés de depender de Deus?

O poder de Asmodeus era imenso. Ele sabia disso e agora tinha maestria sobre a realidade infernal, sendo capaz de transformá-la, aos poucos, num ambiente terrestre. Conjurou para si um copo, feriu a si mesmo utilizando sua garra e deixou seu sangue escorrer delicada e suavemente na taça. Então ele bebeu profundamente e sentiu o doce sabor percorrer sua garganta. Era o doce sabor do seu ódio contra Jesus Cristo, o doce amor pelos irmãos humanos e demoníacos. Era o sabor da Liberdade, o sabor da Justiça.

A ele, então, vieram os poderosos Anjos, os poderosos servos de Jesus Cristo Ressuscitado. Asmodeus fez do chão infernal levantar um trono negro como a noite, escura como o breu e nele sentou. Então os Anjos vieram ter com ele.

Miguel: Filho de Adão e Eva. Antigo Anjo do Próprio Deus Todo-Poderoso. O vosso crime é grande, mas piedade do Pai é infinitamente maior. Vinde comigo desfazer este erro que cometeste, arrependei-vos dos vossos pecados e permitam que a santidade do Senhor os purifique.

Ele usou um tom imperativo contra Asmodeus, ainda tratando o ser recém-nascido como se ainda fossem dois. Inconcebível.

Asmodeus: Apartai-vos de mim, Miguel e tua Hoste. Teu Pai nos encarcerastes aqui, a mim e aos meus dois amados povos, apenas pela culpa do desejo da Liberdade e da Felicidade. Que espécie de "Pai" é este que não permite que os filhos procurem suas próprias felicidades com as próprias pernas? Que "Pai" tenta aprisionar o filho para sempre em sua casa, alienando-o, obrigando-o, dizendo a ele: "com esta deverás casar, isto é o que deves fazer a menos que deseje punição"?

Miguel: Vosso orgulho vos cega, Aberração, Criatura-Que-Não-Deveria-Haver! Não podeis contra o poder de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei de Todos os Justos...

Então Asmodeus empunhou uma Chama Profana e transpassou Miguel com ela, que não conseguiu sobreviver e pereceu eternamente, por todos os Séculos depois do Final dos Tempos. Houve clamor no Inferno: todos os habitantes infernais podiam sentir a Presença "Sagrada" desaparecendo de suas terras.

Asmodeus: "Foi-lhe dado, também, fazer guerra aos santos e vencê-los. Recebeu autoridade sobre toda tribo, povo, língua e nação, e hão de adorá-la todos os habitantes da terra, cujos nomes não estão escritos desde a origem do mundo no livro da vida do Cordeiro imolado."

Asmodeus citara o Livro do Apocalipse, o antigo poder infernal de Lúcifer acima de todos os Santos e Anjos. Agora que ele se unira a um humano, seu poder era inconcebivelmente maior e mais imprevisível.

Rafael tremeu diante de Asmodeus, Rei do Inferno, mas ousou dirigir-lhe a palavra.

Rafael: Jesus, Filho de Davi, Filho de Deus, perdoa-te pelo teu pecado. Não irás arrepender-te e aceitar a piedade de Deus Todo-Poderoso?

Asmodeus percebeu na fala de Rafael que a mensagem destinava-se somente a ele. Jesus não temia os demônios, nem temia os humanos. Ele "perdoaria" Asmodeus somente. Era um engôdo, mas a astúcia de Asmodeus era maior do que o previsto. Talvez ele fosse imprevisível, fora do alcance de previsibilidade divina. Ele podia vencer.

Asmodeus: Não pelo perdão de Jesus, maldito seja, mas pelo meu próprio perdão serei perdoado. Serei perdoado pelo meu próprio arrependimento, não pelo arrependimento de ter contrariado uma divindade obscena e indiferente!

Asmodeus reuniu então todas as pragas, blasfêmias e dores sentidas pelos habitantes do Abismo e reuniu-as em uma única doença, capaz de matar aniquilar um planeta inteiro. O poder curativo de Rafael apenas serviu para proteger os Anjos restantes e receber toda a aflição sobre sua alma. A agonia infernal destruiu-o instantaneamente.

Uriel entrou em posição de combate, pronto para ferir Asmodeus.

Uriel: Não aceitarás mesmo a piedade divina e permitir que eu te leve para tua recompensa, não mais amaldiçoado?

Revelado estava o engôdo dos Anjos. A recompensa e a piedade divina eram apenas um eufemismo para destruição. Para um Anjo, o conflito com Deus é um castigo maior que a aniquilação absoluta. A eles é preferível serem obliterados e terem seus nomes esquecidos do que um só segundo de rebelião e obstinação.

Asmodeus: Que oferta generosa! Deveria eu retornar de cabeça baixa a um ditador insensível e egocêntrico para obter como recompensa a essa submissão... deixar de existir!? Qual seria a recompensa por deixar de obedecer a essa ordem derradeira... perdão, a essa divina piedade? Enoja-me um dia ter sido um servo desse ser!

Contra o Anjo da Morte, Asmodeus resolveu ser rápido e implacável. Ao invés de reunir os sentimentos de tristeza e raiva, reuniu os sentimentos positivos dos habitantes infernais: em especial, a vontade e a esperança de conseguir a vitória contra o Céu. Um golpe mais rápido e absoluto, capaz de acabar de uma vez por todas com o falecer, finalizou a existência eterna de Uriel.

Sobrou Gabriel, Anjo Gentil. Anjo da Piedade. Anjo do Amor. Anjo Mensageiro de Boas e Más Notícias, viu todos os golpes, sentiu na pele tudo o que viu.

Gabriel: Eu me rendo. Nunca pensei que os Demônios e os Humanos tivessem tanta tristeza na alma, e que, no entanto, guardassem tantos sentimentos benéficos como a esperança. Também não esperava que Jesus fosse oprimir a Humanidade. Por favor, você deve vencer esta batalha. Esta não é uma mensagem dos Céus. Esta é a minha mensagem, mensagem também do seu povo e de todo aquele que deseja o Amor e a Justiça neste Universo. Abram o Céu para os Justos que jazem neste lugar.

A boca de Gabriel verteu sangue, mesmo ele sendo só uma alma angelical. Jesus estava punindo-o pela sua insolência, mas Asmodeus interviu utilizando seus poderes.

Asmodeus: Não! Este pode ser o seu servo, mas o Inferno ainda é minha morada e meu domínio! Nele, não podereis dar suas ordens mesquinhas! Apartai-vos dele, Falso Deus!

Gabriel, Anjo do Amor, caiu em desmaio, e foi acolhido por donzelas humanas muito doces, que um dia haviam sido pagãs. Elas tratariam de suas feridas.

E Asmodeus, Poderoso Soberano Abismal, percebeu um problema para enfrentar os Céus... todavia, também viu uma solução.